O brasileiro carrega, e fomenta, o estigma de ser um profissional barato. Mesmo que bem qualificada, a mão de obra aqui ainda é baratinha e pouco exigente. Nós trabalhadores acostumamos mal nossos contratantes. De uma maneira geral, não estamos habituados a exigir reconhecimento pelos ótimos trabalhos que prestamos. Muitos contentam-se apenas com a manutenção daquele cargo/emprego de sempre, em fazer “carreira” e ficam felizes em continuar ganhando um salário abaixo do merecido, mas em dia.
Estamos em constante aperfeiçoamento profissional e evolução tecnológica a fim de acompanhar os mercados e nos atualizarmos, mas a maioria dos trabalhadores (principalmente os mais velhos e tradicionais) não exige a contrapartida desse esforço: o reconhecimento salarial, o respeito, o apreço da empresa.
A recente ascensão da classe C gerou impacto direto no mercado do emprego, e não foi positivo1. O ingresso nas universidades em busca de melhores oportunidades fez com que profissões operacionais menos valorizadas ficassem sem mão de obra. Hoje é um sacrifício contratar, e a peso de ouro, pedreiros, auxiliar de serviços gerais, encanadores, pintores, empacotadores, caixa, entregadores e etc. Com isso, há hoje excesso de mão de obra “qualificada” e a conseqüente desvalorização de toda essa faixa trabalhista, o que causa a baixa desses salários.
Mas e a auto-estima da Classe C? Cresceu também? Apesar da sua ascensão, antigos temores arraigados em suas consciências (contas a pagar, empréstimos para quitar, etc.) não permitem que seus integrantes sejam mais ousados, exigentes, logo, mais valorizados.
A auto-estima deles ainda não está em alta e por isso eles sentem medo de perder o emprego e voltar para onde vieram. E as empresas tiram proveito disso, de suas condições sociais, dos medos e do excesso de “oferta” de certos profissionais para oferecerem cargos em condições indecentes, sempre com aquela conversinha: “Se não quer, tem quem queira...”.
Em busca de estabilidade financeira (sic!) a qualquer custo, muitos brasileiros se sujeitam a baixos salários. É preferível aceitar receber R$ 800,00 como funcionário público concursado dos Correios do que lutar por algo mais condizente e se aventurar pelo mercado de trabalho em busca de melhor remuneração. Aceita-se não crescer patrimonial e financeiramente em troca da certeza do contra-cheque no fim do mês. Aí nos deparamos com um fenômeno estarrecedor: A subvalorização do brasileiro no mercado de trabalho mundial.
A geração Y está tentando (e conseguindo) mudar, a duras penas, esse panorama triste, mas sozinhos eles vão demorar bastante até conseguir. É preciso volume maior de trabalhadores dizendo não para essas condições ultrajantes para acelerar a mudança.
(1) Quero deixar bem claro que não sou contra o crescimento da classe C ou da ascensão de muitos para ela. Muito pelo contrário! Quero o sucesso do Brasil, o respeito aos trabalhadores e a sua valorização. Nunca fui muito com as ideias de Marx, mas acredito que estamos sim sendo explorados e desrespeitados. O mercado precisa e pode pagar decentemente por esses novos e antigos profissionais, só não o faz porque nós ainda não nos damos valor e exigimos isso. Está na hora de mudar! Como está hoje não é aceitável e o meu desejo é esclarecer algumas atitudes comuns no Brasil a fim de causar um debate sobre as mesmas.